MÍSSIL TELEGUIADO
MÍSSIL TELEGUIADO Dafne sai de casa decidida e mais linda do que o habitual. A saia curta desfiada deixa as suas tatuagens nuas. Folhas de louro descem das coxas roliças até a panturrilha. A blusa curta de seda alva deixa a flecha de chumbo exposta, atravessando as costas lisas. Os seios desprotegidos são mais ameaçadores do que as flechas de Cupido. No metrô, as pessoas se encantam. O jovem desliga o funk que atormentava a todos, coloca uma música melosa e fica olhando sonhador. Ela pensa: “Retardado!”. O tiozinho olha tímido, mas fixo. Ela: “Palhaço!”. A moça de cabelos azuis a encara lascivamente dos pés à cabeça. Ela: “Sai fora!”. Dafne desce na estação Central. Os seguranças a olham e fazem comentários entredentes. Ela torce os lábios, fazendo uma careta arrogante, e pensa alto: “Porcos machistas!”. Os mendigos da Aarão Reis assobiam e falam obscenidades. Ela segue calculadamente gélida, e enojada, diz: “Deveriam tomar banho!”. Entra no edifício. O porteiro faz “f