PEQUENO CONTO DA UTOPIA ABANDONADA

PEQUENO CONTO DA UTOPIA ABANDONADA
Saio de casa a esposa linda fica cantando Chico, “Ah, se já perdemos a noção da hora...”
No corredor do prédio a vizinha interpreta do seu jeito o soneto musicado, “uma muié, que come a própria lua, tão linda que só espaia sofrimento...”
No ônibus o meu amigo nem me vê, está absorto em Guimarães Rosa e a conversa de bois. 
No metrô o cidadão que lê Osho dá lugar para a menina que lê Sérgio Fantini.
Desperto assustado com sons de latas batendo, misturados com palavrões e gemidos histéricos. É um funk, em um carro, rasgando o ar fétido da manhã. Estou no meio dos mendigos da escadaria do Edifício Sulamerica. O corpo dói e na boca o gosto do conhaque barato e de outras porcarias. Na cabeça que lateja, pulsam ainda os versos que me transportaram para esse lugar, Falam de enxergar o jardim de dentro para fora, das raízes monstruosas para a película colorida das coisas.
(Pensando livremente sobre o poema Jardinagem II da Simone Teodoro, página 31 do ótimo livro DISTRAÍDAS ASTRONAUTAS da Editora Patuá)

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