BENZEDEIRA, CÓLICA MENSTRUAL E GUERRA DE GÊNEROS

      BENZEDEIRA, CÓLICA MENSTRUAL E GUERRA DE GÊNEROS

      A menininha tem cólicas menstruais terríveis. Fica pálida, abatida e com ódio do mundo. Viajamos juntos no final da semana, e eu, apesar de sentir muita pena nem queria abrir o bico, “cautela e canja de galinha...” Ela crê que muitas feministas são ateias por discordarem da distribuição das dores no momento da criação.
      Dentro deste silencio doloroso, exercito a minha abstração. Separo mentalmente elementos que possam construir uma crônica a partir da nossa viagem.  Dores, TPMs, raivas, guerras dos gêneros e cura milagrosa, êpa! Cura milagrosa me lembrou algo. Não vai render uma crônica, mas pode divertir a menininha dolorida.
      Lembrei-me de que a minha avó materna era benzedeira das boas antes de se converter a Testemunha de Jeová e falar mal das benzedeiras. Ela tinha uma reza para tudo. Curava entorses, vento virado, aguamento, quebranto, espinhela caída, olho gordo e qualquer outra mazela do corpo e do espírito também. Usava copos com água, toques com os dedos, galho de alecrim, arruda, agulhas e novelos de linha enquanto rezava. Muitas pessoas saiam satisfeitas depois de benzidas por ela, curadas.
      Nas nossas conversas a Dona Margarida Benzedeira dizia que aquele dom deveria ser repassado para o filho mais velho e dele para o neto mais velho, ou seja, eu. Não vou explicar os meus porquês, mas eu “sartei de banda”, pulei fora.
      Neste momento eu volto para a viagem com a menininha empesteada. Lembro a ela que se eu tivesse aprendido a benzer com a minha avó, naquele momento da nossa viagem, quem sabe, eu poderia sanar as suas dores. Disse que não usaria toques com os dedos porque pegaria mal, talvez o alecrim, água de uma mina, leite de três Marias, alguma pedra mágica, leite de algum animal exótico... Concluí que me sentia culpado pelas dores dela.
     A viagem ficou mais tranquila  as nossas risadas amenizaram a dor da garota. Mais uma cura creditada à minha avó. Porem a minha confissão de culpa me criou uma “cólica” mensal: Todos os meses ela vai ter outro homem para odiar.
     



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