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Mostrando postagens de 2013

BENZEDEIRA, CÓLICA MENSTRUAL E GUERRA DE GÊNEROS

      BENZEDEIRA, CÓLICA MENSTRUAL E GUERRA DE GÊNEROS       A menininha tem cólicas menstruais terríveis. Fica pálida, abatida e com ódio do mundo. Viajamos juntos no final da semana, e eu, apesar de sentir muita pena nem queria abrir o bico, “cautela e canja de galinha...” Ela crê que muitas feministas são ateias por discordarem da distribuição das dores no momento da criação.       Dentro deste silencio doloroso, exercito a minha abstração. Separo mentalmente elementos que possam construir uma crônica a partir da nossa viagem.  Dores, TPMs, raivas, guerras dos gêneros e cura milagrosa, êpa! Cura milagrosa me lembrou algo. Não vai render uma crônica, mas pode divertir a menininha dolorida.       Lembrei-me de que a minha avó materna era benzedeira das boas antes de se converter a Testemunha de Jeová e falar mal das benzedeiras. Ela tinha uma reza para tudo. Curava entorses, vento virado, aguamento, quebranto, espinhela caída, olho gordo e qualquer outra mazela do corpo e do

DESCOBRI QUE PRECISO DE DINHEIRO

DESCOBRI QUE PRECISO DE DINHEIRO O metamorfosear-se é sábio e necessário, no entanto o fazer-se de repente em algo radicalmente antagônico ao anterior é milagre, loucura ou é um simples despertar? O fariseu ferrenho Saulo de Tarso, que inclusive participou do assassinato do discípulo Estevão, viu uma luz forte e ouviu uma voz: “Saulo, Saulo, porque me persegues?”. Foi o suficiente para uma mudança radical, de perseguidor a principal divulgador do cristianismo. Isso foi um milagre ou a voz ouvida foi a própria voz interior pedindo uma mudança de postura?  Francisco de Assis, de nobre a símbolo do desapego. Do Aurel da Floria Emília ao Santo Agostinho o que se passou foi um despertar, um milagre ou uma loucura? Nos nossos dias, um socialista, Luiz Inácio, de repente acordou neoliberal, não assumido é verdade, mas um. Enquanto os meus amigos da juventude se rasgavam para enriquecerem, eu me afundava nos livros e nunca consegui entender a ostentação e a farra. Alguns se fuderam n

Universo em mim

UNIVERSO EM MIM Foste sempre minha aspiração maior, Minha inspiração, Respiração, Instante zero universal, Centelha inicial. Sempre estiveste, Sempre houveste, Sempre. Não houve um único plenilúnio suspirado um dia, Que não fosse tu em pétalas, Em veludo, Em prata (carne da lua). Nem nunca houve evento cósmico, Quasar, Pulsar, Mancha solar, Partícula, Ou antipartícula, Ao menos um vago... vagalume, Um luar e seu perfume inexplicável, Que não fosse tu, impregnando o ar Ruído de fundo da grande explosão. Qualquer que fosse a estrela nova a contar Tua luz é que emprestava a ela a vocação. Sempre estiveste Sempre houveste Sempre. No entanto Nunca houve um início, Nem nunca espaço, Nunca tempo cronológico, Por isso, não haverá saudades E não é possível o adeus. Porque sempre estiveste Sempre houveste universal em mim, Antes do inicio de tudo, E muito depois do fim.

Falando de Deus

Falando de Deus Quando tento falar em Deus, as variáveis filosóficas são tantas e tão complicadas que acabo desistindo. Então, usarei uma redução estratégica de raciocínios para facilitar. Reduzirei o raciocínio à existência, sem questioná-la. Ele existe e pronto. Algo muitíssimo poderoso criou todas as coisas do universo, criou o caos, o inefavelmente grande e o invisível mundo subatômico. Criou as caldeiras enormes nas galáxias, os berçários das estrelas e o tijolinho ínfimo que constrói tudo o que existe, inclusive os seres vivos. Aqui, o discurso fica mais complexo: seres vivos. Decisões lógicas ou intuitivas, dons, sentimentos, ideologias e fé. O que não é matéria também é criação de Deus? Não estou me referindo às religiões, que são criadas, normalmente, para satisfazerem ao homem. Estas matam, ferem, escravizam, extorquem, criam cerimônias excludentes e preconceituosas, explodem escolas, tomam dinheiro de miseráveis para que alguns poucos vivam faustamente. A únic

Histeria coletiva

Definitivamente o que irrita nas comemorações do torcedor do futebol não tem nada a ver com o esporte ou com as escolhas clubísticas. O que deixa qualquer um doente é o barulho, é o exagero, é o profundo desrespeito com o direito dos que não curtem o futebol. Para quem comemora um resultado não existem hospitais, doentes, bebês ou moribundos. Eles se vestem do primitivismo mais absoluto e o resto que se dane. Há relatos de selvagerias de toda espécie, alias, selvagem não joga rojões em hotéis ou em apartamentos, quem faz isso é inclassificável. Até criticar é perigoso porque quem se opõe é taxado de não gostar da paixão nacional, a bola. Quem se opõe é transformado em um ser deletério e poderá até ser apontado como intelectual, como se isso fosse demérito. Criticar comportamentos que venham do futebol é perigoso, sim, há uma parte da imprensa e dos intelectuais que vivem dele, há toda uma estrutura publicitária que faz do torcedor um alienado consumidor. As manchetes dos jornais f

Insetos

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INSETOS

Paisagens de Minas Gerais

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Algumas paisagens do interior de Minas Gerais.

POR FALAR EM PLEBISCITO

POR FALAR EM PLEBISCITO As periferias são comumente tratadas com descaso pelas grandes cidades. Essas se preocupam com o entorno da sede e com os bairros ricos. O resto os políticos embrulham bem devagar.   Eu morei no Bairro Lindéia, na casa do Senhor Lazinho, gente da melhor qualidade, que tinha ainda no lote um boteco e um cavalo. A ótima casa era à beira de um córrego podre. Os esgotos das casas corriam a céu aberto para esse destruído regato. A avenida não tinha asfalto e quando chovia até o cavalo do Senhor Lazinho tinha dificuldades de locomoção. Ônibus, nem pensar. No quesito humano foi o melhor local em que já morei. Os vizinhos e o dono da casa eram sensacionais. Tinham sempre a grandeza do sorriso franco e um bom dia amigável. Eram delicados e carinhosos com os meus filhos. O Filipe, na época, tinha cerca de dois anos, costumava fugir de casa para se aconchegar e usufruir do cafezinho doce da Dona Maria, esposa do proprietário. Da meia parede que nos dividia eu o

ADMINISTRADORES DE EMPRESAS

ADMINISTRADORES DE EMPRESAS O café Sueños, que fica na galeria do Othon Palace, é a minha parada obrigatória em todas as manhãs para tomar um expresso. O ambiente tranquilo e caloroso proporcionado pela proprietária, Débora, faz com que os clientes se interajam e, não raro, ficarem amigos. Eu fiz vários amigos. O Elcio é um desses. Ele é sócio proprietário da BH Vídeo, a video locadora mais apurada da cidade, especialista em clássicos. A empresa tem também outras duas lojas interligadas, venda e aluguel de filmes, e uma loja de sex shop. Ele é um sujeito calmo, muito educado e dono de uma cultura invejável, principalmente, óbvio, no quesito cinema clássico. Sempre conversamos sobre música, literatura, cinema e, às vezes, futebol também. Raramente falamos de negócios, acho que é porque só nos encontramos quando o que queremos mesmo, nesses momentos, é uma pausa nas atividades profissionais. Um sábado desses, eu o encontrei tomando café, com algumas revistas na frente, um bloco

Sinfonia inacabada

A SINFONIA INACABADA (Para a minha esposa Rena) Eu pedi à minha namorada Que me ajudasse a compor uma sonata, Sonata a quatro mãos. A juventude nos garantia as ilusões. A inspiração de tema incerto Vinha da respiração, Das flores, Beijos, Da luz do dia, Da luz da lua, Das alegrias, Das lágrimas, E das paixões imensas. Ultrapassamos o tempo, O compasso, As décadas, O pressuposto, Corações a quatro mãos. Mas não foi uma sonata o que construímos: Entre os acordes perfeitinhos, Houve pausas, Pianíssimos, Diálogos dissonantes, Descompassos, Bumbadas nas pausas. Criamos a improvável sinfonia inacabada do viver a dois.

Poema para ser comido.

Eu queria colher um poema que possa ser comido. Plantar               Adubar                             Livrá-lo das ervas daninhas. Esperar as folhas novas,                                       As flores e as abelhas Botões           Fruto de vez                                 Maduro                                                Colhido Cheirado                Admirado                                Apalpado                                                 Depois comido. Eu queria colher um poema-goiaba-vermelha.

Bombus hypnorum

Como dois mangangás Meus olhos buscam as acácias E esfregam-se nas pétalas E se banham de pólen e néctar. Mas são olhos e não dois mangangás. Sorte dessas abelhas gigantes Que não param para chorar. Se não encontram uma acácia, Caçam a flor do maracujá.

Do momento determinante

Do momento determinante. O hálito da menina de repente ficou tão perto. Dos seus hálitos frescos, gotículas carregadas de hormônios entorpeceram os dois jovens por instantes. Ele não disse uma única palavra naquele instante, mas a poesia se instalou. A verve transformou a sua maneira de enxergar tudo ao redor. Essas possíveis gotículas invisíveis determinaram todas as suas escolhas futuras: livros, músicas, roupas, cursos, viagens... Todas as escolhas na vida do poeta foram feitas em busca dos lábios que passaram perto demais.

BURACO NEGRO

BURACO NEGRO Os humanos e os seus apegos! Querem ser o centro da galáxia. O centro é um buraco negro, Singular e egocêntrica armadilha, Diverte-se tragando os seus séquitos, E nem a própria luz compartilha.