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Mostrando postagens de 2014

A MENINA DO VESTIDO FLORIDO

Voltando para casa, ainda no metrô, depois de mais uma sexta-feira terrível, eis que uma historia começa a se desenvolver, vinda de alguma área ainda ativa do meu cérebro.  Ela toma forma e depois domina completamente o meu pensamento. Acrescento personagens e alimento-os, dou umas pinceladas nas suas peculiaridades como se fossem residentes da minha memória real (às vezes a gente não cria nada, só dá cores diferentes às memórias reais). A garota do vestidinho florido, que namora fogosamente, em pé, no mesmo vagão, entra na historia como protagonista; a idosa cochilando no outro assento também; o funkeiro e o seu som alto integrarão o núcleo da vilania com o namorado da moça e o pastor evangélico que grita palavras desconexas     Desço do metrô, no Eldorado. Para completar o percurso, são mais três quilômetros que faço à pé para me exercitar e retirar do corpo, pelos poros, os demônios das relações comerciais, antes que eles cheguem ao meu lar. O novo conto vai sendo lapidado

Flores pequeninas

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Proclamação da república (as magnólias voltaram)

PROCLAMAÇÃO DA REPUBLICA Era novembro e vivíamos iludidos. Debaixo das magnólias floridas planejávamos as nossas vidas. As flores alaranjadas perfumavam e encobriam os nossos enganos. Agora é novembro de novo e o perfume voltou: É a natureza cobrando o futuro que não se concretiza.

CRUZEIRO x ATLÉTICO, MUITO ALÉM DA BOLA.

Em Belo Horizonte hoje deveria ser feriado, as pessoas estão em um êxtase estranho. O padre, na missa das sete, levantou a hóstia, distraidamente e disse: Vão em paz que o senhor lhes acompanhe. A menina do café expresso colocou a xícara fora do lugar e derramou tudo. O metrô só não errou a rota porque só há uma, miseravelmente uma.   A beata alem de rezar um terço extra ainda rezou o quinto mistério três vezes, trocando tudo da ordem. A cozinheira errou o sal, a lavadeira errou o sabão e o carteiro se perdeu. O executivo, pra espanto do taxista, desta vez deu uma gorjeta. No ônibus, um silencio estranho e o motorista respondeu ao meu “bom dia”. O professor foi camarada com o aluno que não conseguiu se concentrar no texto. A casa de prostituição ficou entregue às moscas e às baratas de sempre, e ao abandono só hoje. No PROCON nenhuma reclamação. No legislativo provavelmente vão aumentar os próprios salários e no executivo vão autorizar o aumento das passagens.

UM SONHO NA GARAGEM

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UM SONHO NA GARAGEM  Os sonhos nos impulsionam às vezes. O “Seu” Carlos é um senhor grande, inchado e tem inúmeras cicatrizes de tombos. É alcoólatra. Eu mesmo já o ajudei a chegar em casa após encontrá-lo caído na porta de um boteco, molhado de urina e vômito, sujo de barro, despenteado, barbado, rasgado e perdido. Tem um problema na perna direita por causa de um atropelamento, então se arrasta lentamente, não trabalha, é encostado. Quando sóbrio é simpático. Já fez vários tratamentos, mas não consegue se livrar do vicio. A esposa sofre resignada, a filha desistiu, foi embora por causa das vergonhas e da raiva de ver a mãe sofrendo. Estive com ele sóbrio numa manhã dessas, estava indo para um encontro de apaixonados por Opalas, aquele carro da GM. Ele me contou que já possuiu um e perdeu por causa das dívidas, desde então não conseguiu mais comprar carro algum, mas não sonha com carros modernos, sonha com um Opala “quatro por cem”. Existem grupos de apaixonados por esse

E SE ELA FOR UMA FEMINISTA?

E SE ELA FOR UMA FEMINISTA? Ela está à cerca de trinta metros de onde estou na estação do metrô. No instante em que chegou acompanhada de alguns amigos a estação saiu do marasmo tradicional e passou a pulsar brilho, energia e juventude; vida. Veste uma regata branca sem sutiã e exibe algumas tatuagens. Por causa da distancia não consigo saber os desenhos. O cabelo é cortado rente e nem por isso parece masculino. Eu não consigo mais me concentrar na leitura. Os movimentos dela provocam calafrios em mim, meu peito se acelera, e eu me lembro da teoria do caos, uma ação provocando outra até fazer uma tempestade na outra parte do mundo. A boca da moça apenas esboça um riso e a estação inteira aguarda ansiosa a luz que virá. As frases ditas entre risinhos joviais não chegam aos meus ouvidos, mas agem em mim como brisa das montanhas de Belo Horizonte, macia, leve e penetrante.  O meu coração de fotógrafo clica sem parar, dezenas de composições imaginárias registrando os movimentos do

O ORIENTADOR DE TCC

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     O ORIENTADOR DE TCC    O que me despertou a atenção foi o carro. Um BMW coupé série 4 que eu pensava nem existir um em Belo Horizonte. Esta máquina parou na Rua dos Caetés, bem esquina com a Aarão Reis, na frente da Estação Central do metrô. Procurei andar bem lentamente para admirar o carro. A porta do passageiro foi aberta e uma garota de aproximadamente 20 anos se abraçou ao motorista, um senhor calvo de uns 60 anos. Eles se beijaram e ela desceu. Linda, com um short jeans rasgadinho, e uma baby look com  a palavra “direito” bordada.      Ela passou pela frente do veículo, foi até a janela do motorista, trocaram outros beijos e afagos. Eu guardei para mim a inveja e a frase sarcástica: O amor é lindo!      Descemos  as escadas da estação.    Depois de passar pela roleta a garota pegou o celular, digitou, esperou e disse com um dengo danado para quem atendeu:      – Ai amor, eu to tão cansada, o orientador de TCC está acabando com a gente, eu não comi nada at

Poema para Fernanda Takai

Poema para Fernanda Musa Fernanda Takai, Tens na alma o sol nascente, Musa Fernanda Takai, Semeia este brilho suave aonde vais. Musa Fernanda Takai, Calíope das Gerais. (Laércio J. Pereira)

Dia internacional da mulher - A beleza é intrínseca

A beleza é intrínseca “As feias que me perdoem , mas a beleza é fundamental”.  Hoje encontro uma interpretação mais justa para este banalizado verso do poetinha Vinícius. A beleza na mulher já está intrínseca. Toda mulher já nasce (de fundamento) com a beleza. O que pode torná-la feia é a assimilação – por defesa – do pior do outro gênero, como a grosseria no trânsito, a violência, a covardia, a infidelidade, e a promiscuidade. O que pode também torná-la feia é a aceitação de uma inferioridade que não existe, e a subordinação às massificantes publicações que denigrem o gênero, como algumas músicas.  Ela pode escolher, tem o direito de escolher ser só bunda, ser “a preparada do funk” e aceitar ser chamada de cachorra e rir disso e dançar isso, escolher ser mercadoria; mas que me desculpem, a beleza está no fundamento.  Estas feias que me perdoem, a beleza é fundamental.

PUBLIQUEI UM LIVRO, E NÃO SOU RICO

PUBLIQUEI UM LIVRO, E NÃO SOU RICO Sim, eu escrevi e publiquei um livro de poemas livres e tenho outros três prontos: dois de poemas e um de crônicas e contos. O livro que publiquei já se esgotou. Recebi mais críticas negativas do que positivas sobre ele. A maior parte das críticas me ajudou demais, mas a mais terrível delas apareceu porque eu coloquei na biografia que sou empresário. Então, fui criticado por usar o meu dinheiro para entrar no meio literário. Empresário não significa RICO. Algumas pessoas preferem biografias carregadas de títulos acadêmicos e prêmios, ou de histórias tristes. Para elas, seria melhor que eu dissesse que vim de uma família miserável; que a escola onde tomei gosto pela leitura – Escola Municipal Maria do Amparo, no Bairro Industrial de Contagem – não tinha sequer carteiras quando entrei; que estudei por meses assentado no chão; que não consegui terminar um curso superior por falta de dinheiro; que abdiquei do meu curso tardio para custear a esc

BUSCA DA HARMONIA

BUSCA DA HARMONIA Ontem uma moça foi atingida por um raio enquanto descansava na praia. Outro dia alguém ganhou sozinho a mega-sena acumulada, depois foi assassinado. Um homem comprou uma lava, trabalhou durante três anos ininterruptos, passou fome, e ficou doente. Trocou a escavação por comida e remédio com o fazendeiro rico. Este trabalhou por um mês e ficou ainda mais rico ao encontrar esmeral das. O chato insuportável e preguiçoso casa com uma linda princesa doce e herdeira de milhões, dilapida os bens das duas famílias e se mata. Ao voltar para casa o operário é atropelado pelo bêbado dirigindo um superesportivo na contramão. Bêbado, notívago e herdeiro de milhões. Azar? Sorte? Deus? Falta de Deus? Dadas as proporções infinitas e o caos dessa fornalha que é o universo, a vida é um evento raro, ilógico e quase impossível. O não ser é que é a regra. Viver é a sorte grande. Não existe azar, existe uma predisposição ao retorno às origens. Morrer é apaziguar as improbabilidades. Morrer