UM SONHO NA GARAGEM

UM SONHO NA GARAGEM 


Os sonhos nos impulsionam às vezes. O “Seu” Carlos é um senhor grande, inchado e tem inúmeras cicatrizes de tombos. É alcoólatra. Eu mesmo já o ajudei a chegar em casa após encontrá-lo caído na porta de um boteco, molhado de urina e vômito, sujo de barro, despenteado, barbado, rasgado e perdido. Tem um problema na perna direita por causa de um atropelamento, então se arrasta lentamente, não trabalha, é encostado.
Quando sóbrio é simpático. Já fez vários tratamentos, mas não consegue se livrar do vicio. A esposa sofre resignada, a filha desistiu, foi embora por causa das vergonhas e da raiva de ver a mãe sofrendo.
Estive com ele sóbrio numa manhã dessas, estava indo para um encontro de apaixonados por Opalas, aquele carro da GM. Ele me contou que já possuiu um e perdeu por causa das dívidas, desde então não conseguiu mais comprar carro algum, mas não sonha com carros modernos, sonha com um Opala “quatro por cem”.
Existem grupos de apaixonados por esse carro e ele os acompanha. Onde houver uma reunião ele comparece. O olho chega a brilhar quando descrever o carro: ”Seis cilindros em linha, 4092 cilindros cúbicos (isso pra mim é grego), 121 cavalos a 3800rpm, velocidade máxima 168,9 km/h, aceleração de zero a cem com doze segundos”. Conclui pesaroso:

 — Vou ter o meu “quatro cem” novamente, nem que seja a última coisa que eu faça na vida. Não posso dirigir mais, mas eu quero apenas para contemplá-lo, lavá-lo, polir, e para eu sentir que não fui derrotado pela vida. 

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