A MENINA DO VESTIDO FLORIDO



Voltando para casa, ainda no metrô, depois de mais uma sexta-feira terrível, eis que uma historia começa a se desenvolver, vinda de alguma área ainda ativa do meu cérebro.  Ela toma forma e depois domina completamente o meu pensamento. Acrescento personagens e alimento-os, dou umas pinceladas nas suas peculiaridades como se fossem residentes da minha memória real (às vezes a gente não cria nada, só dá cores diferentes às memórias reais). A garota do vestidinho florido, que namora fogosamente, em pé, no mesmo vagão, entra na historia como protagonista; a idosa cochilando no outro assento também; o funkeiro e o seu som alto integrarão o núcleo da vilania com o namorado da moça e o pastor evangélico que grita palavras desconexas    
Desço do metrô, no Eldorado.
Para completar o percurso, são mais três quilômetros que faço à pé para me exercitar e retirar do corpo, pelos poros, os demônios das relações comerciais, antes que eles cheguem ao meu lar.
O novo conto vai sendo lapidado, aparado, e temperado durante o percurso.
Assim que entro em casa a esposa, antes dos cumprimentos normais, pede pra eu ajudar em uma tarefa, eu faço; depois tomo um banho, janto e corro para o computador.
As primeiras palavras são sempre as mais difíceis, assim, debruço na frente do teclado para pensá-las. Apago completamente. Acordo horas depois com a minha esposa chamando para ir para a cama. O conto sumiu, eu me lembro de pouca coisa além da menininha do vestido florido.  

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