Prometeu

PROMETEU 


Não devo mais escrever poemas,
Em vez disso farei bolinhos da minha carne e distribuirei nas ruas da minha cidade,
no ônibus, nas construções, na missa e na fila do posto de saúde.
Para não receber só sorrisos apimentarei alguns, exageradamente.
Pode ser que alguém premiado com o ardor extremo agradeça, os olhos lacrimejantes e a face rubra.
Pode ser que um contemplado com a carne pura, me seja ingrato e frio.
Talvez a minha família aplauda desta vez,
Talvez a minha esposa reclame a matéria prima desaparecida.
Talvez eu até encontre patrocínio entre os amigos.
Talvez um perito nos mitos reconheça alguma mitologia no ato.
Talvez a minha carne não apodreça agarrada na gaveta do meu corpo.


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(...Então, um abutre insaciável, — o cão alado de Júpiter — virá arrancar de teu corpo enormes pedaços e, — comensal não desejado — voltará todos os dias para se nutrir de teu fígado negro e sangrento).
PROMETEU ACORRENTADO DE ÉSQUILO


Prometeu Acorrentado (1762); Sebastien Nicolas-Sébastien Adam (1705-1778); escultura em mármore (Louvre).

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